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Máfia de Leste coagia menores a assaltos com agressões e fome

19-10-2010 00:00

O grupo conhecido como "Máfia de Leste", suspeito de ter praticado pelo menos 239 assaltos a residências por todo o país, coagia menores e mulheres à prática de crimes. Sob ameaça de lhes bater e negar comida. Quem o garante é o coordenador da investigação.

As palavras de Cláudio Moutinho, chefe de uma brigada da Divisão de Investigação Criminal da PSP-Porto, foram proferidas na segunda sessão do julgamento que decorre nas Varas Criminais do Porto. No banco dos réus estão seis arguidos (dois homens, os líderes, e quatro mulheres; todos de nacionalidade que se presume croata, sem certezas), em prisão preventiva; os demais 15 acusados pelo Ministério Público do Porto (todos estrangeiros) estão em fuga, por não terem sido postos em prisão preventiva.

"As operacionais tinham de assaltar as casas e depois, numa relação tipo vassalagem, tinham de entregar o ouro. Eram coagidas e tratadas como escravas", explicou Cláudio Moutinho, explicando que o cenário foi descrito por uma das jovens apanhadas.

"Pôs a hipótese de colaborar com a investigação mas voltou atrás, por receio. Mas ficámos a saber que havia objectivos de quantidade de assaltos, como de produção em fábrica. Se não fossem cumpridos, eram aplicados castigos", descreveu aos juízes.

O chefe da PSP foi mais longe e contou que, em casos em que as autoridades interceptaram as operacionais suspeitas em mais do que uma ocasião, na segunda vez elas já "apareciam com hematomas e marcas de agressão". Várias crianças detidas foram colocadas em casas de acolhimento, à ordem do Tribunal de Menores, mas acabaram por fugir.

Segundo o chefe da PSP, as dificuldades da investigação prenderam-se com a extrema facilidade de mobilidade do grupo, que, em pouco tempo, estabeleceu-se na Póvoa de Varzim, Espinho e Vilamoura (Algarve), - cidades onde existem casinos e onde os líderes, designados Ratko e Dejan (embora existam dúvidas sobre as suas verdadeiras identidades) foram detectados a jogar. Há também indicações de que a "célula" actuou na Costa da Caparica.

Mas também os próprios investigados sabiam despistar a vigilância policial, quer através da utilização de manobras de contra-vigilância, quer através da referência à idade (menos de 16 anos, documentados com papéis falsos), quando eram apanhados em flagrante a sair de prédios com objectos furtados. "Conheciam bem a nossa legislação".

Cláudio Moutinho referiu-se a  Ratko e Dejan como "supervisores" de uma "célula" de uma organização internacional, disse, garantindo ter a "certeza" de que os objectos em ouro apanhados ao grupo, em Março do ano passado "não eram de receptação".

O julgamento prossegue hoje. Um das arguidas diz querer falar.

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