33 detidos contra a máfia em portugal.

Grupo organizado e perigoso obrigava proprietários de estabelecimentos de diversão nocturna a pagar uma quantia mensal para terem segurança.

Obrigavam os proprietários dos espaços de diversão nocturna da zona do Vale do Sousa a pagarem uma mensalidade para terem segurança. Caso aqueles não aceitassem pagar pela protecção imposta, o grupo espalhava o terror, vandalizando os locais e ameaçando com armas. Com medo, os donos dos estabelecimentos chegavam a pagar mais de cinco mil euros por mês para que a ‘Máfia de Vale do Sousa' não destruísse os espaços.

Na maior operação realizada desde a ‘Noite Branca' e que mobilizou quase toda a directoria da Polícia Judiciária do Porto, 33 pessoas foram constituídas arguidas por extorsão, tentativa de homicídio, tráfico de armas e associação criminosa.

Segundo o CM apurou, a ‘Máfia do Vale do Sousa' era constituída por dois grupos altamente perigosos e estruturados: os ‘Peixeiros', ligados ao ‘gang dos Ferreiras', que mataram o inspector João Melo, em 2001e os do grupo do ‘Tó Zé'. Por se tratar de elementos cadastrados e perigosos, foram pedidas fortes medidas de segurança para o tribunal de Penafiel.

O inquérito começou em Junho do ano passado, após uma agressão ao subcomissário da PSP Mário Moreira, em Cête, Paredes. O agente terá tentado abordar o grupo, que reagiu violentamente ao murro e pontapé. Durante largos meses o caso esteve entregue à GNR de Paredes, mas passou posteriormente para a alçada da Polícia Judiciária do Porto.

Durante a megaoperação, foram apreendidos centenas de objectos pertencentes à família dos ‘Peixeiros'. O material será hoje exposto nas instalações da Judiciária, às quais acorreram ontem dezenas de familiares dos 33 arguidos. 

AGREDIRAM COM GARRAFAS EM DISCOTECA

Um dos homens pertencente à ‘Máfia do Vale do Sousa', e que ontem à tarde foi detido na megaoperação da Polícia Judiciária do Porto, é suspeito de agredir e de espalhar o terror em discotecas do Grande Porto. Num dos casos, o agora arguido pertencente ao grupo dos Peixeiros, atacou vários clientes com uma garrafa e agrediu-os. As vítimas terão ficado com graves lesões por todo o corpo e ficaram internadas durante várias semanas numa unidade hospitalar do Porto.

Muitos dos arguidos são ainda conhecidos como estando ligados ao grupo dos Ferreiras, que em 2001 matou, no Marco de Canaveses, o inspector da PJ João Melo. Um dos últimos elementos daquele grupo foi detido há cerca de dois meses em França. Pediu para cumprir a pena naquele país.

PSP ESPANCADO ESTEVE TRÊS DIAS NO HOSPITAL

O subcomissário Mário Moreira, de 31 anos, deu entrada no Hospital de Penafiel, o ano passado, com diversos ferimentos, entre eles fracturas na cana do nariz e na órbita do olho esquerdo, assim como diversos hematomas na canela. O oficial foi agredido de forma bárbara à porta de casa, em Cête, Paredes. Por causa dos ferimentos, na altura considerados de grande gravidade, o polícia foi transferido para o Hospital de S. João, no Porto, onde também ficou internado. Ao todo, esteve hospitalizado três dias. Na altura, Mário Moreira era chefe de duas esquadras do Porto e do Pelotão Operacional de Polícia da PSP.

FAMÍLIAS APOIAM SUSPEITOS E POPULAÇÃO REVELA MEDO

Dois tipos de sentimentos antagónicos, separados por uma estrada. De um lado, junto ao tribunal, mais de cem pessoas - familiares e amigos dos elementos do grupo - manifestavam o seu apoio aos suspeitos enquanto criticavam polícias e ameaçavam jornalistas. Do outro lado, nos cafés e nas ruas, muitos penafidelenses não escondiam que queriam vê-los presos. ‘Eles' eram os ‘Peixeiros', velhos conhecidos da terra, jovens que há muitos anos praticam crimes de forma quase descarada. Todos lhes têm medo, são muitos os que conhecem histórias de alguém que foi ameaçado ou agredido. Mas ninguém dá a cara, ninguém assume as acusações, apenas são audíveis desabafos e o desejo de que "seja desta que ficam na cadeia".

MÁFIA ERA PAGA PARA VIGIAR ESCOLA     

  O domínio que a Máfia do Vale do Sousa exercia era tanto que o gang chegou mesmo a prestar segurança na Escola Secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel. Os inspectores da PJ apanharam por diversas vezes nas vigilâncias Toninho ‘Peixeiro’, um dos líderes do grupo, a entrar e sair sucessivamente da escola.

  A PJ chegou inclusive a surpreender um encontro entre Toninho e um membro do estabelecimento no qual ambos discutiam os pormenores da contratação. Nas escutas telefónicas foram também interceptadas várias conversas entre o líder e membros do estabelecimento, nas quais aquele era contratado para efectuar a segurança na escola.

Para controlar todos os alunos, Toninho contava com a ajuda de outros dois elementos, nomeadamente Rui Cavaleiro e Hugo Duarte. Os 26 detidos continuaram ontem a ser ouvidos no Tribunal de Penafiel. Ao fecho desta edição, os interrogatórios prosseguiam, desconhecendo-se as medidas de coacção aplicadas.

JUIZ MANDA 6 PARA PREVENTIVA

O núcleo-duro do grupo denominado máfia do Vale do Sousa ficou em prisão preventiva. O juiz do Tribunal de Penafiel decidiu ontem à noite que seis dos 26 suspeitos, entre eles alguns elementos da família dos Peixeiros e do Tozé, líder do segundo grupo, ficavam em prisão preventiva.

Outros três foram para prisão domiciliária e os restantes, cujas medidas ainda estavam a ser lidas à hora do fecho desta edição, ficaram sujeitos a medidas de coacção mais leves.

A Polícia Judiciária do Porto foi chamada pelas 22h00 para reforçar a segurança na zona. Mais de 150 pessoas encontravam-se nas imediações do tribunal à espera de conhecerem as medidas – e a tensão no local era evidente.

Recorde-se ainda que o grupo está indiciado por associação criminosa, tráfico de armas, coacção e extorsão, entre outros crimes, tendo mesmo criado uma onda de verdadeiro terror nos últimos anos em vários concelhos do Vale do Sousa. Impunham segurança em diversos estabelecimentos, entre cafés, discotecas, farmácias e foram até contratados para vigiar uma escola.

AUTORIDADES AMEAÇADAS DE MORTE

Arguidos proferiram frases intimidatórias a diversos polícias enquanto foram ouvidos no Tribunal de Penafiel.

Altamente perigosos, os 33 elementos da Máfia do Vale do Sousa, detidos na passada terça-feira numa megaoperação da PJ do Porto, ameaçaram de morte vários policias que os encaminharam até ao Tribunal de Penafiel, onde foram ouvidos durante os últimos dias. As frases intimidatórias, proferidas alto e bom som em pleno corredor do tribunal, foram um dos fundamentos para os juízes decretarem prisão preventiva a sete dos 33 detidos.

MÁFIA TINHA CONTACTOS NA GNR

Paulo Baptista , companheiro de Rui ‘Cavaleiro’, ambos ligados à segurança nocturna, é ainda suspeito de ser o autor de vários disparos de arma de fogo, efectuados num estabelecimento de diversão nocturna na Baixa da cidade do Porto. Foi acusado de tentativa de homicídio. No entanto, a arma usada no crime nunca foi recuperada pela Polícia Judiciária.

No tribunal compareceram nos últimos dias centenas de familiares e curiosos. Muitos pediam a condenação do gang para poderem viver em paz e sem agressões.