Máfia suspeita de estar envolvida na caça a imigrantes em Itália
Mais de um milhar de imigrantes africanos já deixaram a cidade de Rosarno (sul da Itália) e a calma foi restabelecida após os incidentes de sexta-feira, estando em curso uma investigação sobre eventual implicação mafiosa.
"Temos vários inquéritos em curso", declarou hoje, domingo, um oficial da polícia de Rosarno a propósito de um possível papel da máfia calabresa Ndrangheta, a mais violenta das quatro máfias italianas.
A Ndrangheta é igualmente suspeita de ter feito explodir em sinal de advertência uma bomba artesanal, há uma semana atrás, diante da entrada do ministério público de Reggio Calábria, capital desta região.
"As investigações estão em curso", confirmou hoje à estação de televisão Sky TG24 Roberto Maroni, ministro do Interior, a propósito da origem da violência em Rosarno.
O ministro explicou que "a criminalidade organizada conseguiu fazer entrar clandestinamente milhares de trabalhadores" estrangeiros em Itália para os explorar.
Criticou igualmente as autoridades locais, os empregadores de imigrantes e as organizações patronais, afirmando que deixaram apodrecer a situação pagando salários de miséria e alojamentos insalubres aos trabalhadores agrícolas, o que torna o caso "um problema de ordem pública" a necessitar de intervenção das forças da ordem.
"Foram de certeza os homens da Ndrangheta que dispararam contra os imigrantes para provar que dominam o território", considerou por seu turno Alberto Cisterna, magistrado do ministério público nacional anti-máfia numa entrevista ao diário católico Avvenire.
Os imigrantes saíram à rua em Rosarno na quinta-feira à noite, destruindo automóveis e montras de lojas para protestar contra tiros de armas de ar comprimido disparados contra si. No dia seguinte, grupos de habitantes locais italianos lançavam-se numa "caça ao imigrante" para se vingarem.
"A polícia reconheceu membros dos clãs locais da Ndrangheta durante as confrontações com os imigrantes", indicou Michele Albanese, jornalista do diário local Il Quotidiano della Calábria.
"A máfia explora os imigrantes com cinismo. Os cérebros criminosos sabem que os imigrantes clandestinos não podem revoltar-se porque são privados de documentos de identidade e por conseguinte da protecção do Estado", denunciou sábado Luigi Ciotti, um padre fundador da associação anti-máfia "Libera".
O papa Bento XVI recordou hoje durante a oração do Angelus que "o imigrante é um ser humano a respeitar", reagindo à caça ao homem de que foram vítimas estes trabalhadores africanos na Calábria.
"Um imigrante é um ser humano, apesar de diferente pela sua proveniência, pela sua cultura e suas tradições, mas é uma pessoa a respeitar e com direitos e deveres", disse o pontífice em alusão às confrontações dos últimos dias em Rosarno.
A calma parecia ter voltado hoje, domingo, à cidade, esvaziada da sua população imigrante nos dois últimos dias.
Segundo a polícia de Reggio da Calábria, 1.128 imigrantes foram evacuados de Rosarno, mais de 800 dos quais para centros de acolhimento em Crotone e em Bari, duas outras cidades do sul da Itália.
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